Vida Nômade – Como eu faço o que eu faço

Como eu faço o que eu faço é provavelmente a pergunta que mais me fazem e certamente a maior curiosidade das pessoas, portanto, nada melhor do que começar por desmistificar esta minha vida nômade que, na verdade, é acessível a quase qualquer pessoa. Só precisas de estabelecer uma coisa na tua vida: PRIORIDADES.

Não, eu não trabalho online. Não, os meus pais não me sustentam. E não, não recebi nenhuma herança ou dinheiro fácil. A minha realidade é como a maioria de vocês, eu trabalho para me sustentar e pagar as minhas viagens, porém, a minha prioridade máxima é continuar na estrada.

VIDA NÔMADE

Ser viajante era um sonho bastante distante para mim, eu sempre senti aquela “inveja” boa cada vez que conhecia uma pessoa com este estilo de vida e, mesmo querendo viver o mesmo, no início não fazia ideia de como fazer isso acontecer, eram tantas as dúvidas e as perguntas sempre as mesmas:

Como é que eles conseguem? Como é que eu posso conseguir o mesmo?

A verdade é que comecei a ter uma vida nômade sem esquematizar um plano para a conseguir e permaneço nela sem propriamente ter um plano específico de como continuar. Mas, se me permitem ser um pouco lamechas, eu acredito profundamente que quando queres muito uma coisa e começas a realizar coisas nesse sentido, as respostas chegam até ti, as oportunidades chegam até ti e num “piscar de olhos” estás a viver o sonho.

Eu diria que, na minha história, existiram 3 pontos fulcrais que culminaram no meu estilo de vida. Existem outras histórias, outras maneiras de se fazer o mesmo, mas no final o “esquema” acaba por ser parecido.

1 | FOCA-TE EM JUNTAR DINHEIRO

Comecei a considerar-me uma viajante desde que comecei a minha aventura na Austrália. Foi quando decidi que não iria mais trabalhar como arquiteta e iria agarrar esta oportunidade para mudar a minha vida de vez. Decidi que iria ser como esses viajantes e experienciar um estilo de vida nômade. E assim foi.

O Work and Holiday é o visto dos sonhos para quem quer começar esta aventura. Uma vez que te permite viver no país e trabalhar legalmente o número de horas que quiseres. Imaginem, ter a oportunidade de explorar a Austrália e fazer dinheiro ao mesmo tempo!

Cheguei sozinha, com um inglês péssimo, 1000€ no bolso e um curriculum meio inventado, mas com muita vontade de dar certo e viver esta aventura intensamente.

Portanto, as semanas a comer macarrão instantâneo com latas de atum, os dias a percorrer restaurantes à procura de trabalho e a ouvir não como resposta, a contar os tostões e a dividir quarto com mais 10 pessoas que rapidamente se tornavam família, foram ultrapassados com alguma ansiedade, mas também com muita leveza e alegria.

Depois de mudanças de planos drásticas, de ter vivido mil acrobacias e estar há quase dois meses a viver na terra dos cangurus, tinha finalmente a minha vida australiana estabilizada.

1.1 | COMPROMETE-TE

Lembram-se das prioridades que falei no início?

Essas prioridades, tornei-as bem claras para mim quando entendi o que realmente poderia juntar nesta aventura. Neste sentido, decidi aproveitar a Austrália mas também focar-me muito no trabalho, visto que seria a minha garantia de não voltar à minha vida antiga. O foco foi essencial.

Tive momentos em que trabalhei imenso, nestes períodos trabalhava geralmente 60 horas por semana durante 4 meses seguidos, depois fazia uma pausa. No entanto, esses períodos de 4 meses de trabalho intenso também me trouxeram as melhores experiências que nunca imaginei serem possíveis, porque acabei por trabalhar em lugares muito remotos, vivendo a Austrália na sua essência mais pura.

Acredito que é fundamental ter o melhor dos dois mundos, porque se te focas só em fazer dinheiro e não vives a experiência, não te divertes e não aprendes com ela, no meu ponto de vista não faz sentido. Temos de ser capazes de usufruir do percurso porque é onde a vida acontece.

Em última análise, o meu primeiro conselho para quem quer começar um estilo de vida nômade é procurar um trabalho em um país que pague bem, procurar trabalhos sazonais que são ótimos ou continuares no teu trabalho por mais um tempo mas com o foco em juntar algum dinheiro para começar.

1.2 | JUNTAR É NÃO GASTAR

Aqui é onde entra a parte do sacrifício. Para juntares o máximo de dinheiro tens que cortar as tuas despesas ao essencial. E isso não é um processo fácil.

Tens de aprender a abdicar de comer fora, das noitadas regadas a cerveja, festas, a assinatura Netflix, roupa nova, ginásio, cabeleireiro e por aí vai. Não digo que vais ter de viver assim para sempre, mas no início, principalmente se não tens uma poupança, este ponto é crucial.

É crucial aprenderes a viver um estilo de vida minimalista. Até porque, a tua casa vai ser a tua mochila e não vais ter espaço para tudo.

Esta adaptação é mais difícil no início, mas uma vez que te inicias nesta vida, vais perceber que ser viajante e ser minimalista caminham lado a lado. Não vais sentir vontade de estoirar 100€ num casaco sabendo que isso te paga praticamente duas semanas na Ásia.

vida nômade

2 | VIAJA DE FORMA INTELIGENTE

A forma como viajas também te vai permitir estar mais ou menos tempo na estrada. Isto é tão ou mais fundamental do que juntar dinheiro. Eu considero-me uma viajante roots levada ao extremo, portanto, gasto realmente muito pouco dinheiro a viajar e em verdade vos digo que também é a minha forma preferida de o fazer.

Portanto, quando uso a expressão roots significa que:

  • vou usar os transportes locais e muitas vezes a 3ª classe, esteja no Japão ou na Tailândia;
  • vou comer nos restaurantes locais;
  • vou ao booking e escolho o hostel de entre os mais baratos o que tem a melhor cotação (sempre resulta). Na Ásia foram raras as vezes que paguei mais de 5€ por um quarto, sendo que, nestes lugares também encontro o mesmo estilo de viajante que eu;
  • vou regatear, mas regatear até à exaustão. Acredito que, ao longo destes anos, me tornei numa especialista de sucesso em baixar preços;
  • vou fazer Couchsurfing, ou seja, ficar em casa de locais sem qualquer custo;
  • vou fazer voluntariado em troca de hospedagem e alimentação;

O segredo que ninguém fala é que viajar consegue ser, muitas vezes, mais barato do que viver uma vida normal com um emprego das 9 às 18.

VAMOS A NÚMEROS?

Três meses no Vietname gastei cerca de 1000€, fazendo voluntariado em um hostel por um mês. Três semanas no Japão gastei 850€, ficando em Coushsurfing e com amigos.

É importante perceber que, quando viajamos a tempo “integral” não é como quando viajamos de férias. Por exemplo, eu cheguei a fazer férias das minhas viagens, sendo que continuava a viajar. Faz sentido?

A tua viagem é a a tua vida pelos próximos meses e às vezes anos, portanto, tens sim que ter consciência dos gastos e viver de forma controlada.

Necessitas de algumas regras básicas, como não gastar todo o dinheiro programado para o mês em garrafas Chang na Tailândia, coisa que às vezes é impossível cumprir. Mas tudo bem, diverte-te, aproveita e vive… se num dia gastas mais depois compensas em outro que gastas menos.

3 – TRIBO DE VIAJANTES

vida nômade

Não existe uma comunidade oficial de viajantes, mas ao mesmo tempo existe. Somos como uma tribo de sonhadores, de inconformados com o sistema e sedentos de aventura. Somos família.

Já deves ter ouvido falar da ligação instantânea e profunda que se cria com algumas pessoas em viagem. Não importa o tempo que passam juntos. Por vezes os laços criados são tão ou mais fortes do que com pessoas que passas uma vida ao lado. É difícil de explicar esta conexão, acho que é daquelas coisas que têm que ser vividas para realmente entendermos.

E esta comunidade é um dos pontos porquê? Devem estar vocês a perguntar-se. A resposta é simples, porque todos temos uma vontade em comum, sendo ela a de continuar a viajar. E quando todos nos perguntamos a mesma questão, chegamos a várias soluções diferentes.

Todos estão a fazer alguma coisa para conseguirem continuar, coisas que tu também podes fazer. E assim, se abre um mundo de novas possibilidades e ideias!

CONCLUINDO

Não precisas ser rico para viajar, mas precisas de algum dinheiro.
As coisas são mais fáceis de acontecer do que tu julgas.
Não confies em tudo o que vês no Instagram, ninguém partilha a parte em que lava sanitas.
Muito foco e amor por esta vida porque, não te esqueças, existem sempre duas faces na mesma moeda.
E o mais importante de tudo. Acredita em ti.