Guia de Meditação para Iniciantes 1: Afinal o que é meditar?

Talvez sejas aquela pessoa que ouviu falar de meditação e que sente uma certa curiosidade sobre o tema, mas que ao mesmo tempo ainda está um pouco confuso/a sobre o que consiste meditar.

Afinal, o que é a meditação? Como se medita? Para que serve meditar? Como eu sei se estou a meditar? Como me livro de todos os meus pensamentos? O que meditar tem de tão incrível? Porquê que parece que todas as pessoas falam sobre meditar?

Se este é o teu caso, permite-me dizer-te que chegas-te ao lugar certo!!! A pensar em pessoas como tu, decidi criar o “Guia de Meditação para Iniciantes”, uma série de artigos exclusivamente dedicado a dar-te um entendimento geral sobre a meditação.

Acredita que, o simples facto de estares a ler este artigo neste momento, revela que existe em ti uma curiosidade sobre este assunto e essa curiosidade é o primeiro passo de qualquer jornada.

A MINHA PARTILHA

Eu sempre senti uma grande curiosidade pela meditação, no entanto, como acontece com grande parte das pessoas, eu sentava-me para meditar e não conseguia esvaziar a minha mente. Após algumas tentativas frustradas, cheguei à conclusão que meditar não era para mim, pelo simples facto de que nem o meu corpo eu conseguia manter imóvel, quanto mais a minha mente.

Porém, em 2017 decidi dar mais uma oportunidade à meditação e inscrevi-me no retiro Vipassana em Myanmar (podes ler o relato aqui) e toda a minha relação com a meditação mudou. Hoje em dia, a meditação é a maior ferramenta para o meu desenvolvimento pessoal e sou uma grande entusiasta sobre este assunto, porque só coisas boas vieram daí!

A IMPORTÂNCIA DO PROPÓSITO

Acredito que é importante termos um entendimento maior sobre o que esta prática acarreta em si, nesta medida conseguimos visualizar qual o caminho que estamos a seguir e qual a finalidade de nos sentarmos imóveis.

Em tudo na vida, eu defendo que temos que encontrar o nosso propósito em cada situação, porque só assim conseguimos criar um comprometimento forte com algo que nos faz prosseguir, mesmo quando temos vontade de desistir. E com a meditação não é diferente, no entanto, para encontrares um propósito nesta prática considero fundamental teres umas luzes sobre este mundo e acredito que um guia de meditação para iniciantes te pode ajudar.

O meu propósito, o que me faz todos os dias sentar para meditar, é a curiosidade que eu tenho sobre me conhecer melhor e perceber que quanto mais eu me conheço, mais eu desenvolvo o meu amor próprio e perceber como isso se reflete na minha realidade.

Pelo caminho, vou descobrindo outras coisas, porém o meu propósito é dedicar pelo menos 30 minutos do meu dia a “vamos estudar a Maria”.

 

TREINAR vs MEDITAR

Eu gosto de comparar o treino físico com a meditação. Da mesma maneira que tu vais ao ginásio para esculpir o teu corpo e desenvolver os teus músculos, tu usas a meditação para esculpir e desenvolver a tua mente.

Na verdade, os processos são bastante similares:

  • Muitas vezes vais ter preguiça de o fazer;
  • Um minuto por vezes parece uma eternidade;
  • Os resultados não se vêm do dia para a noite, mas uma vez que começam a aparecer dão-te uma motivação extra;
  • Quando terminas ficas sempre feliz por o ter feito;
  • Se ficas uma semana sem praticar parece que andas dois passos para trás no que já tinhas conquistado;
  • No geral sentes-te mais saudável, mais confiante, mais feliz e com mais energia;

Portanto, quanto mais treinas o teu corpo mais forte e ágil te sentes, na mesma medida, quanto mais treinas a tua mente maior é o controle que tens sobre ela e mais te sentes capacitado/a para controlar em o que a tua mente se foca e em como ela processa nova informação.

A meditação é, portanto, uma ferramenta que te permite observar a mente de forma direta.

 

NINGUÉM NOS ENSINOU A OLHAR PARA NÓS MESMOS

Infelizmente, vivemos numa sociedade em que desde crianças somos incentivados a olhar e a analisar o mundo exterior, tentando encontrar soluções em algo externo a nós. Esta tentativa de tentarmos entender os outros e o mundo, sem antes termos um conhecimento sobre nós mesmos é uma das principais razões para tanta confusão e desapontamento surgir nas nossas vidas.

A verdade é que muito pouco se sabe sobre o funcionamento da nossa mente, existem vários avanços na neurociência que nos permitem ter algum conhecimento sobre a forma como ela funciona, no entanto, a parte do subconsciente que é a base de todas as nossas experiências, continua desconhecida e indisciplinada.

Sem ser através da meditação, não existe outro método para desenvolvermos o controle e a compreensão do subconsciente.

 

AFINAL, O QUE É MEDITAR?

Meditação é uma técnica precisa de descanso da mente, um estado totalmente oposto ao que vivemos no nosso dia a dia. Em meditação a mente está limpa, relaxada e focada.

Quando meditas tu está totalmente desperto/a e alerta, no entanto, o foco não está no mundo exterior ou no que está a acontecer à tua volta, o foco é totalmente voltado para o mundo interior, para o que acontece dentro de ti.

Neste sentido, deixas de prestar atenção ao barulho do mundo exterior e começas a observar o barulho do teu mundo interior. E na medida que vais observando sem reagir e te vais concentrando cada vez mais, esse barulho tende a dissipar aos poucos e começas a entrar num estado profundo do teu Ser, num estado profundo de concentração da mente onde encontras calma e paz e então, a mente silencia.

Quando a mente silencia e não te distrai, a meditação de estado profundo acontece.

A meditação ensina-te a ver a verdadeira natureza das coisas, acedendo a um lugar de tranquilidade interior. É uma ferramenta que podes usar se ficares preso/a a uma emoção, situação ou problema, uma vez que te ajuda a voltar ao teu centro e a trazer-te de volta ao momento presente. É a melhor ferramenta que podes ter na vida! E é grátis!!!

 

A MENTE QUE PENSA E A MENTE QUE OBSERVA

Respira fundo. Relaxa. E concentra-te em cada palavra que estás a ler, na medida que lês torna-te consciente do teu corpo. E foca-te em cada palavra, uma por uma. Percebe o som que palavra produz na tua mente, sente a tua respiração. Foca-te no som que estás a ouvir agora, neste exato momento. Em cada palavra. A voz na tua mente que está a ler isto és tu? Se és tu então quem está a observar isto a acontecer?

Este é um exercício muito simples que te faz ter consciência do teu processo mental, o mesmo processo que te vai acontecer em meditação. Na medida em que observas os teus pensamentos a surgir e a desaparecer, tu percebes que existe um segundo “Eu”, ou uma segunda mente, porque se tu consegues observar isso a acontecer, significa que tu não és isso. Existe um distanciamento entre o teu Ser e os teus pensamentos.

Com os monges aprendi que isso são as duas mentes que temos:

  1. A mente que pensa
  2. E a mente que observa
A IMPORTÂNCIA DA MENTE QUE OBSERVA

A mente que observa é uma mente que não julga, não desenvolve opiniões sobre nada, ela apenas observa. E para ativarmos esta mente que observa necessitamos colocar a nossa atenção em algo específico, como a respiração, sensações do corpo, mantras, etc.

O facto de colocarmos o foco da nossa atenção em algo do nosso corpo é por razões obvias de que podemos aceder a isso facilmente em qualquer momento da nossa vida, por exemplo, a respiração vai nascer e morrer contigo, entendes?

Esta noção das duas mentes é muito importante porque é o que te vai dar uma maior compreensão do distanciamento que existe entre o que Tu és ou seja, o teu Ser e os teus pensamentos, sentimentos e emoções.

É a partir desta mente observadora que desenvolves durante a meditação, que podes usar a prática da atenção plena no teu dia a dia, estando mais consciente, praticando o desapego (podes ler mais aqui) e criando um intervalo entre a emoção e a ação, que te permite agir com consciência sobre o que é o melhor para ti no momento presente, ou seja, a agir com presença.

 

AS DIFERENTES FORMAS DE MEDITAÇÃO

Existem várias formas de meditação e todas estão certas, elas apenas são diferentes. Qualquer prática que te obrigue a focar a tua atenção no momento presente e deixar ir qualquer emoção ou pensamento é uma forma de meditação. Neste sentido, tu até podes estar a lavar pratos e a praticar um tipo de meditação, caso estejas totalmente presente na tarefa que estás a fazer.

As minhas preferidas são a meditação da atenção plena (Mindfulness meditation) e a Vipassana e vou saltando entre elas. Elas são as minhas preferidas porque o que eu busco com a meditação é um conhecimento profundo de mim mesma e até à data estas duas são as que me têm trazido resultados mais transformadores, no entanto, na minha opinião, também são as que exigem mais de mim.

TIPOS DE MEDITAÇÃO
  • Meditação da atenção plena: Focar a tua atenção num objeto (respiração, sensações, etc;) e sempre que surgir um pensamento observá-lo sem reagir ou julgar e voltar a atenção para o objeto;
  • Vipassana: Consiste em longas sequências de observação e consciencialização do corpo em uma ordem específica, tendo como foco a não reação;
  • Walking Meditation: Consiste meditar enquanto caminhamos, colocando toda a nossa atenção nos nossos pés pisando o solo, um de cada vez;
  • Meditação Zazen: É a base da prática Zen Budista e consiste em sentar-se com as costas direitas e apenas observar a mente, para ser sincera, ainda não consegui perceber muito bem a diferença da meditação Zazen com a Mindfulness;
  • Tai Chi e Yoga: São considerados tipos de meditação em movimento, que conjugam a respiração com movimentos do corpo em presença plena. Comecei a praticar Yoga recentemente e estou rendida!
  • Meditação guiada: É uma prática moderna que se baseia em diversos tipos de prática e como o nome indica alguém te guia através de uma meditação. Na minha opinião, a meditação guiada é como uma bengala, ela é muito eficiente porque realmente te consegue acalmar e relaxar de forma rápida mas acaba sempre por ser algo que entretém a tua mente em vez de a explorar. Eu, pessoalmente, gosto de as praticar a um nível mais espiritual ou quando só me quero acalmar.

Com isto quero dizer-te que como podes ver, existem vários tipos de meditação e que te podes aventurar entre elas e ver qual resulta melhor para ti, porque acredito que seja qual for a meditação que pratiques é certo que vais encontrar benefícios e todas te vão ensinar alguma coisa.

 

INTEGRAÇÃO DO CONTEÚDO

Com a primeira parte deste guia de meditação para iniciantes, adquiriste o conhecimento sobre o que consiste a meditação, percebeste que ela é uma ferramenta muito poderosa para te começares a conhecer a um nível mais profundo e como ela te pode ajudar a tomar decisões com mais consciência.

Em um outro nível terás compreendido que é natural os pensamentos surgirem na tua cabeça e que a única coisa que tens que fazer é observa-los, sem julgamentos, deixando-os seguir o seu caminho. Com a prática contínua e muita paciência, o intervalo entre pensamentos será cada vez maior, atingindo estados mentais de profunda concentração que te podem levar a um estado profundo de calma, paz e alegria.

Aprendeste que tens duas mentes, a mente que pensa e a mente que observa e que esta última é a que está mais próxima do teu Eu superior, da tua essência e que é através da meditação que a desenvolves.

Por fim, ficas-te com uma lista de diferentes tipos de meditação que podes explorar e perceber qual delas faz mais sentido para a tua jornada neste momento.

No próximo artigo “Guia de Meditação para Iniciantes 2” vamos explorar vários benefícios que advêm de uma prática contínua de meditação. E o porquê de esta prática ser tão incrível e ter tantos apaixonados por ela.

Seguimos juntos?