Três dias de incríveis cascatas no Gerês

A primeira vez que fui ao Gerês foi no início do Verão de 2019. Fazia cerca de um mês que tinha voltado a Portugal após 3 anos no estrangeiro. Entre outras coisas, sentia muito a falta de estar no meio da natureza selvagem e a serra do Gerês veio com tudo! Então, quando a Marta sugeriu passarmos uns dias a explorarmos as cascatas no Gerês, pareceu-me o plano perfeito pós-quarentena!

O Parque Nacional da Serra do Gerês ou simplesmente Gerês, encontra-se localizado no norte de Portugal. Este é o lugar onde podes encontrar pequenas aldeias onde parece que o tempo parou há muito tempo atrás. O lugar onde podes encontrar cascatas escondidas e te conectares com a natureza abundante que te rodeia a cada instante.

Temos um pouco esta tendência de não dar muito valor ao que temos tão perto ou ao que é tão facilmente acedido, como se essa facilidade nos tirasse a vontade de explorar. É uma falha, minha pelo menos, porque ultimamente tenho “mordido a língua” a cada cascata que descubro em Portugal.

Desde que saí da quarentena e deparei-me com a realidade de que não posso fazer grande coisa quanto aos meus planos de vida, decidi que posso tornar-me uma exploradora de cascatas portuguesas. E, com conhecimento de causa, posso dizer-te que até agora não deixaram muito a desejar às da Ásia ou da Austrália.

GERÊS

Vamos explorar cascatas no Gerês!!!

O único plano traçado foi relaxar e nadar em cascatas. Se o teu plano é esse também, continua a leitura porque aqui vais encontrar um “roteiro” testado e aprovado sobre explorar cascatas no Gerês 😁 Vale ressaltar que a serra do Gerês é uma área muito grande e existem muitas coisas para descobrir dependendo da zona onde fiques hospedado/a.

BASE ESTRATÉGICA – LINDOSO

Ficámos hospedados em Lindoso, enrolámos para reservar a casa e as que queríamos já estavam reservadas, sendo que as opções começaram a escassear devido aos feriados então, praticamente um dia antes, a Marta depois de alguns telefonemas conseguiu fechar uma casinha muito fofa no centro de Lindoso.

Sabem aqueles momentos que resultam melhor do que o planeado? Acabámos em Lindoso assim.

Esta é uma aldeia esquecida no tempo, nem caixa de Multibanco tem! Lindoso é composta de casas feitas com grandes blocos de granito, ruelas estreitas cobertas por videiras e várias fontes de água fresca espalhadas em cantos escondidos. E para culminar também tem um castelo e um grande conjunto de Espigueiros, contribuindo para uma paisagem muito medieval.

É aquele tipo de lugar onde os vizinhos vêm falar contigo, felizes por ver alguém novo na aldeia e te convidam a visitar a sua casa.

Para além de todo o charme de no final do dia regressares para um lugar tão acolhedor, a aldeia encontra-se localizada muito perto das cascatas a visitar. Lindoso também é o ponto de partida para uma trilha na serra, no entanto, esta encontrava-se fechada devido à pandemia.

VAMOS FALAR DE CASCATAS?

Foi para explorarmos as cascatas do Gerês que lá fomos, não é verdade? A uns 5 minutos de Lindoso existe um restaurante chamado Mó e a 500 metros daí existe um pequeno paraíso de água gelada para passares o dia.

Eu recomendo vivamente almoçar no restaurante Mó, fomos muito bem atendidos e a comida estava muito boa, as porções são grandes e o preço é muito acessível. Pedimos bitoque e ninguém conseguiu terminar de tão grande que era.

No meu caso, que sou vegetariana, pedi bitoque sem carne 😅 secretamente alimento o desejo de popularizar o bitoque sem carne em Portugal. A batata frita estava uma delícia!!!

POÇO DA GOLA

Depois de uma pequena trilha muito fácil, (tão fácil que provavelmente não lhe deveria chamar de trilha) e de atravessar uma ponte de madeira, encontras o Poço da Gola.

O primeiro lugar onde a tua vista cai é na piscina natural de água cristalina. Escondida numa abertura entre as rochas encontra-se a cascata maior, acredito que seja possível nadar até ela se tiveres boa resistência a água fria, coisa que não é o meu caso, dei-me por muito feliz por conseguir uns mergulhos rápidos!

CASCATAS DO SOAJO

Soajo é uma aldeia próxima a Lindoso e de proporções maiores. Aqui encontras algum comércio e mais eserviços do que na pequena Lindoso e é, também, um dos pontos de alojamento desta zona. Ao seu redor existem algumas cascatas e poços para serem explorados.

1. Poço Negro
2. Poço Bento
3. Lugar desconhecido encontrado quando nos “perdemos”

O Poço Negro é facilmente encontrado, uma vez que está localizado ao lado da estrada, existem umas escadas que desces até encontrar o poço. Decidimos ir diretos para o Poço Bento, visto que era mais isolado e seria necessário fazer uma pequena trilha pela natureza para chegar até ele.

A trilha desenvolve-se por um caminho de terra ladeado de árvores, flores e borboletas, no entanto, o caminho para o poço não está marcado e é fácil “cair no erro” de continuar pelo caminho principal. Foi assim que acabámos no “Lugar desconhecido encontrado porque nos perdemos”.

ALGURES NO RIO ADRÃO

Tenho que admitir que fiquei feliz por não termos encontrado a entrada para o Poço Negro à primeira tentativa, visto que isso nos levou a este outro lugar que parecia secreto.

Cansados de seguir o caminho e já bem acima do rio e da cascata decidimos sair do percurso principal e descer por uma abertura, seguindo um trilho ladeado por um muro de pedras de granito, notava-se que este trilho não era muito usado devido à densa vegetação.

De facto, quase desistimos e voltámos para trás, porque a determinado momento eu achei que tinha muitos picos e era impossível passar. Aqui entrou o Jaime versão valente e abriu caminho com uma rapidez suspeita, vim a saber depois que se picou todo e rasgou a t-shirt 😂. Após alguns arranhões chegámos a este cantinho na beira do rio.

Não é um poço com grande profundidade que podes mergulhar e nadar, mas podes entrar tranquilamente na água e sentes mesmo que estás no meio do nada, a probabilidade de aparecer ali alguém é muito baixa.

POÇO BENTO

Decidimos voltar, exatamente pelo mesmo caminho para não entrarmos em novas aventuras. No caminho de volta após duas tentativas falhadas, finalmente encontramos o acesso que nos levaria à pequena trilha para o Poço Bento. Não te consigo explicar exatamente onde é a entrada mas posso dar-te duas dicas:

1. Quando estiveres no caminho principal e começares a ouvir vozes e o som da cascata, começa a procurar por aí porque a entrada não é mais para cima;
2. Uma vez no caminho correto, vai haver uma parte que tens que passar para o outro lado do riacho, se segues o trilho vais chegar a um lugar sem saída, provavelmente encontras outras pessoas a quem podes perguntar;

Atravessando esse riacho o percurso já é instintivo. Provavelmente estás a pensar que não te queres dar a este trabalho e decides ficar no primeiro poço ao lado da estrada, no entanto, eu garanto-te que vale a pena a aventura.

No Poço Bento encontras dois grandes poços, uma cascata grande e uma pequena que liga os dois poços, existem várias pedras confortáveis para estender a toalha e apanhar o merecido sol. Se o plano “Cascatas no Gerês” fosse um concurso, definitivamente o Poço Bento ganhava.

O GERÊS E OS ESPIGUEIROS

Não podia deixar de mencionar estas curiosas construções que estão presentes em todos os lugares, os Espigueiros, que ingenuamente confundi com túmulos 😂 que a minha antiga professora de História da Arte não leia isto para o bem da minha reputação!

Espigueiros são pequenas construções de pedra granítica construídos ao longo dos séculos XVIII e XIX onde se colocavam as espigas de milho para secar. Permito-me acrescentar que estas construções tornam a paisagem ainda mais encantadora e que vale a pena a visita, tanto o agrupamento existente em Soajo como o de Lindoso.

Gerês, vamos voltar!

O plano era explorarmos as cascatas no Gerês e no final, superou todas as expectativas. Foram três dias em conexão com a natureza, a deixarmo-nos deslumbrar a cada passo e a voltarmos no tempo vagueando por ruelas de granito. Fui pela natureza mas admito que as pequenas aldeias me conquistaram no primeiro segundo, foi como a cereja no topo do bolo.

Gerês, vou voltar!